Dizem as fontes

Como o jornalismo pode contribuir para a educação midiática e como a educação midiática pode ajudar o jornalismo no Brasil

O projeto

“Dizem fontes” - essa é uma expressão que jornalistas usam quando precisam esconder a origem da informação que estão divulgando, porque precisam proteger quem lhes contou aquilo. Talvez você já tenha escutado essa expressão em denúncias sobre esquemas de corrupção, sobre algum tipo de violação ou reportagens que revelam informações delicadas. Para proteger as pessoas que fizeram as denúncias, sem prejudicar a informação, que é de interesse público, a imprensa utiliza: dizem fontes, segundo fontes, e outras variações.

Antes de avançarmos, é importante esclarecer: Afinal o que são fontes? No jornalismo, as fontes são de onde vem a informação. As fontes podem ser pessoas que entendem muito de um assunto, que estão inseridas em determinado meio, que representam um grupo sobre o qual se está fazendo uma reportagem, mas fontes podem ser também documentos, podem ser bancos de dados, ou seja, qualquer origem de informação. Afinal, como são escolhidas as fontes? O que torna as fontes mais ou menos confiáveis? Dá para acreditar em tudo que se recebe pelo WhatsApp?

As informações estão por todo lado. Como saber em quem confiar? Como saber se aquela fonte de informação fez uma pesquisa séria sobre o assunto, se o que ela está dizendo tem uma base sólida ou é apenas algo que ela acha ou quer espalhar para criar medo e, assim, conseguir atingir certos objetivos como ganhar uma eleição ou vender um produto que na realidade não funciona? 

 

Este é o Dizem as fontes. E, antes que você me corrija, sim, eu sei que a expressão usada no jornalismo é dizem fontes, sem o as. Mas aqui, a intenção não é manter o anonimato, aqui o objetivo é identificar as fontes e, justamente, explicar como é feito o jornalismo e qual é o papel dos jornalistas na chamada educação midiática. Então, saberemos exatamente quem e quais são as fontes.

Vou começar, então, me apresentando. Eu sou Mariana Tokarnia, sou jornalista e há pouco mais de dez anos, eu trabalho na Agência Brasil, uma agência pública da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Sou também uma das fundadoras da Jeduca – Associação de Jornalistas de Educação. Este projeto nasce do meu mestrado em Mídias Criativas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).  

Nos últimos anos, o termo educação midiática tem ganhado espaço não apenas no Brasil, mas no mundo, muito por conta da facilidade da disseminação de notícias falsas e da necessidade da população ter uma postura crítica e conseguir distinguir o que é um informação verdadeira e o que quer apenas quer enganar. Nesse cenário de redes sociais, de inteligência artificial, de deep fake, qual é o papel do jornalismo? Por que é importante defender o jornalismo profissional? São respostas a essas perguntas que buscaremos nos próximos episódios, junto com nossas fontes.

Sobre a autora

Mariana Tokarnia

Jornalista formada pela Universidade de Brasília (UnB) e mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Repórter da Agência Brasil, na Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e diretora fundadora da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca). Recebeu o título de Jornalista Amiga da Criança, pela Andi - Comunicação e Direitos, e é vencedora dos prêmios ABMES de Jornalismo e Andifes. Recebeu também o certificado de Jornalista Destaque 2014 da UnB.

Capítulo 1

Cap. 1 A educação midiática

Quando eu estava no começo do ensino fundamental, o Correio Braziliense, o principal jornal da minha cidade, Brasília, visitou a escola onde eu estudava. Eu não lembro muito bem quem estava lá, se era uma ou um repórter, se era alguma ou algum chefe. Lembro que essas pessoas explicaram como funcionava um jornal e nos apresentaram o caderno dedicado às crianças. Eu fiquei encantada com aquilo. Naquele dia, eles dividiram a turma em grupos e pediram que nós desenhássemos um mascote para o caderno.

O melhor desenho seria selecionado e publicado junto com os nomes dos autores. Eu não sei se tenho uma memória criada ao longo dos anos, mas tenho certeza que meu grupo desenhou um lobo-guará, que foi, no final das contas, o mascote escolhido, mas os créditos não foram nossos. Claro, outras crianças desenharam também um lobo-guará. Afinal, é um animal típico do cerrado, típico da região onde está Brasília, e bem brasileiro. Chegou até a ser escolhido recentemente para a nota de R$ 200.

Esse foi, mesmo sem eu ter a menor ideia na época, o meu primeiro contato, de alguma forma, com educação midiática. Neste episódio, vamos falar sobre o que é esse termo que tem ganhado espaço não apenas no Brasil, mas no mundo. E não só ele, mas também alfabetização midiática, educomunicação. Para isso, vamos conversar com quem sabe bastante desse assunto.

Em um mundo conectado, recebemos informações o tempo todo. Em meio a tantas informações, o jornalismo profissional, parece perder espaço. Segundo a última edição, de 2023, do relatório digital News Report, elaborado anualmente pelo instituto Reuters e Universidade de Oxford, a confiança da população na imprensa vem caindo ao longo dos anos. Em 2015, 62% dos brasileiros confiavam na mídia. Em 2023, esse índice caiu para 43%. Entre todos os países participantes, a média de confiança foi de 40%. A Finlândia registrou o maior índice, 69%, e a Grécia, o menor, 19%. O jornalismo não apenas sofre uma perda de credibilidade, mas é alvo de ataques bem direcionados.

Segundo a Fenaj - Federação Nacional dos Jornalistas, o número de ataques à categoria e a veículos de imprensa no Brasil em 2022 chegou a 376. Embora esse número represente uma redução de cerca de 12% em relação a 2021, o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil mostra que aumentaram as formas de violência mais diretas e graves, como as ameaças, hostilizações e intimidações, com 77 casos, o que representa um crescimento de mais de 130%, e de agressões físicas, com 49 casos, que tiveram um aumento de quase 90% em relação ao ano anterior. Em 2023, quando, Jair Bolsonaro deixa a presidência, os ataques tiveram uma redução de cerca de 50%.

A formação crítica da população para que saiba distinguir o que é uma informação verdadeira e o que é uma informação falsa, ou, em inglês, as famosas fake news, para que saiba como é produzida uma notícia ou qual o papel do jornalismo, é o que damos o nome de educação midiática.

No Brasil, a educação midiática ganhou força até mesmo nas políticas públicas. Princípios da educação midiática estão previstos na BNCC - Base Nacional Comum Curricular, documento que orienta a elaboração de todos os currículos das escolas do país e define o mínimo que deve ser aprendido em cada etapa de ensino. A BNCC começou a ser implementada em 2020.  

Além disso, o Brasil passa a ter, em 2023, uma Secretaria de Políticas Digitais, ligada à Secom - Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Estão vinculados à Secretaria de Políticas Digitais, por sua vez, o Departamento de Promoção da Liberdade de Expressão e o Departamento de Direitos na Rede e Educação Midiática, que é responsável pela elaboração da Estratégia Brasileira de Educação Midiática. Desde 2023, a educação midiática passa a ser política pública nacional. Em meio a esse cenário, qual o papel dos jornalistas e do jornalismo?

Na década de 90, quando o jornal da minha cidade entra na minha sala de aula e explica como funciona um jornal e nos mostra um caderno voltado para nós, crianças, o que está ocorrendo ali é uma espécie de educação midiática, jornalistas estão explicando a leitores como funciona um jornal. Claro que havia ali um interesse da empresa de comunicação e claro que essa não é a única forma de se fazer educação midiática, mas certamente, me aproximou do jornalismo. Afinal, é preciso conhecer para confiar.

O episódio completo está disponível no início do capítulo.  

Neste episódio:

Bruno Ferreira

Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), especialista em Educomunicação, pela mesma instituição e bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Metodista de São Paulo. Possui ainda licenciatura em Educação Profissional de Nível Médio, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). É assessor pedagógico do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta, consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e docente da pós-graduação lato sensu em "Proficiência em Tecnologias Digitais para uma Educação Empreendedora", do Sebrae-DF.

Patricia Blanco

Presidente do Instituto Palavra Aberta e do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional (CCS).

Mariana Filizola

Coordenadora Geral de Educação Midiática da Secretaria de Políticas Digitais da Secom/Presidência da República. Mestre em Mídias Digitais e Educação pelo IOE, da University College London, com foco em educação midiática no ensino público. Formada em Relações Públicas pela UFAM, com mobilidade na UnB na área de Ciência Política.

Capítulo 2

Cap. 2 A entrevista

As primeiras entrevistas que fiz, não foram fáceis. Costumava anotar as perguntas em um papel e segui-las à risca. Com o tempo e a prática na profissão, você percebe que por mais que se prepare para uma entrevista, se você realmente escuta a pessoa que está sendo entrevistada, sempre haverá aquelas dúvidas que surgem na hora e, principalmente, com sorte, haverá aquela resposta surpreendente que valerá o trabalho.

Com o tempo, eu aprendi também que o que conta ali é a pessoa que está sendo entrevistada. Lembro de uma matéria jornalística de TV que um repórter, em uma área rural, sem conexão com a internet perguntava a uma criança em uma escola se ela sabia usar o celular. A criança olha para o aparelho e responde: “Se eu tivesse um, eu saberia”. Para mim, aquela foi uma ótima reposta.

Aquilo me lembrou os tempos de escola, quando os professores falavam que não existe pergunta errada. Na entrevista, o holofote está todo em quem está sendo entrevistado. E é também uma das práticas mais fundamentais do jornalismo. Neste episódio dois jornalistas, Antônio Gois e Basília Rodrigues, compartilham as experiências tanto com a prática jornalística, quanto com entrevistas.

Antônio Gois é um dos principais nomes do jornalismo de educação do Brasil. Antonio teve a oportunidade cobrir pautas tanto locais, quanto nacionais. Nós conversamos sobre uma das premissas no trabalho jornalístico que é a diversidade e pluralidade. Por algum tempo pode até se ter acreditado em uma imparcialidade. Acredito que isso tenha sido superado hoje em dia. Já se sabe que é praticamente impossível ser completamente imparcial, sempre tem um olhar, um ponto de vista que é do jornalista. O importante é ter em mente que é preciso ouvir todos os lados possíveis de uma notícia.

Estamos falando de imparcialidade e de pluralidade porque queremos chegar em um dos momentos em que isso é garantido na apuração jornalística, o momento da entrevista. O momento em que o jornalista está em contato com a sua fonte e que faz as perguntas que precisa para bem informar o público.  Antônio é o autor do livro Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil, no qual entrevista os ex-ministros da Educação do país. Neste episódio ele compartilha bastidores desse projeto.

Já a jornalista Basília Rodrigues, compartilha, no episódio, os bastidores da entrevista que fez com o decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, para a CNN Brasil. Era uma entrevista para falar sobre a conjuntura, o governo do momento e algumas decisões que estavam prestes a serem tomadas pelo STF. O que diferenciou a entrevista e fez com que ela ficasse marcada na carreira de Basília foi a locação dela, a casa do ministro, que possibilitou um acesso exclusivo a aspectos do ministro nem sempre relevados para o grande público.

Assim como para Antônio, para Basília, é importante que a pessoa que esta sendo entrevistada se sinta à vontade.

É o jornalista que conduz a entrevista e que vai direcionando a pessoa que está sendo entrevistada, vai chamando atenção para pontos que gostaria que fossem mais bem explicados e vai também buscando esclarecimentos das dúvidas que possa ter sobre determinada questão.

É preciso, no entanto, tomar alguns cuidados. Diante de um mundo com muita oferta de informações o tempo todo, o desafio é conseguir se destacar, mas segundo Basília não vale se destacar a qualquer custo. Para ela, a qualidade, ou seja, ser compromissada com a verdade, ouvir sempre pessoas de opiniões diferentes, para que o espectador tenha acesso a um panorama mais amplo da notícia, é algo que deve ser perseguido no dia a dia no jornalismo.

E claro, além do jornalismo, cabe ao público também escolher por quais meios se informa. Ambos os entrevistados neste episódio destacam que a educação midiática, ou seja, uma formação crítica da sociedade o em relação a mídia e a tudo que é produzido ali, ajuda a população a selecionar de forma consciente aquilo que consome.

O episódio completo está disponível no início do capítulo.  

Neste episódio:

Basília Rodrigues

É analista de política da CNN Brasil, formada em Jornalismo e graduanda de Direito. Há mais de 16 anos, cobre Política e Judiciário. Além da experiência em reportagem, análise e consultoria política, a jornalista participa de treinamento de mídia para advogados, empresários, executivos públicos e privados, realiza palestras e media debates. Venceu o Troféu dos Dez +Admirados Jornalistas Negros e Negras do país, em 2023. No mesmo ano, recebeu o prêmio Melhores do Ano, do site NaTelinha/UOL, como melhor analista, por votação popular e também o Prêmio Engenho de comunicação. Teve ainda o trabalho reconhecido pelo Prêmio Analistas, em 2021 e 2022, na categoria jornalista de Política, pela atuação na CNN. Também ganhou o Troféu Mulher Imprensa como melhor repórter de rádio, em 2018 e 2020, por sua atuação na rádio CBN, do Grupo Globo, onde trabalhou por quase 12 anos.

Antônio Gois

Colunista de educação do Globo e um dos fundadores da Jeduca, tendo sido presidente (2016-2018 e 2018-2020), diretor (2020-2022) e, atualmente, é conselheiro da associação. Cobre o tema desde 1996. Autor dos livros O Ponto a que Chegamos: duzentos anos de atraso educacional e seu impacto nas políticas do presente; Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil, com depoimentos de ex-ministros da Educação desde o governo Figueiredo, e Líderes na Escola: o que fazem bons diretores e diretoras, e como os melhores sistemas educacionais do mundo os selecionam, formam e apoiam. Foi bolsista dos programas Knight Wallace Fellows, na Universidade de Michigan, e da Spencer Education Journalism Fellowship, na Universidade de Columbia. Vencedor dos prêmios Esso, Embratel, Folha, Undime e Andifes, sempre com reportagens sobre educação. Trabalhou nos veículos O Dia, Folha de S. Paulo, O Globo, CBN. É colaborador do Instituto Unibanco e consultor de jornalismo do Canal Futura.

Capítulo 3

Cap. 3 O público

“Agora, vamos que vamos. Três, dois, um. Atenção, atenção, vai começar nossa programação, vamos nessa. Eu sou Mara Régia, carrego essa flor, símbolo da Amazônia, no nome. Acho que isso sempre foi uma premonição por parte de minha mãe, porque não tinha por que colocar essa Régia no meu nome. Isso facilita muito a minha vida na Amazônia”.

Esta é Mara Régia, jornalista que há mais de 40 anos comanda, entre outros programas, o Viva Maria, na Rádio Nacional. Trata-se de um programa sobre mulheres, voltado principalmente para mulheres e especialmente mulheres na Amazônia e é para a Amazônia, que Mara empresta a voz há anos.   

Nada melhor do que alguém com muita história para contar para este episódio. Aqui vamos discutir a prática jornalística, mais especificamente uma função do jornalismo que de tão óbvia acaba passando desapercebida que é servir à população, divulgando informações de interesse público. Isso significa que o público, seja ele um público de determinada região, do país inteiro, internacional ou de determinado segmento, é sempre o objetivo final do jornalismo.  

Mara Régia participou, nos anos 70, da criação da Rádio Nacional da Amazônia. A ideia era ter uma rádio, como ela mesma explica, não que falasse do centro do país para a Amazônia, mas que falasse da Amazônia para o centro do país.  Em uma região, onde a comunicação é um desafio, o sinal do rádio consegue romper barreiras tecnológicas e acessar regiões de apagões, ou seja, sem acesso a notícias locais, e foi assim que a voz de Mara se tornou conhecida, sobretudo na região Norte.

Saindo da Amazônia e indo para a segunda maior cidade do Brasil, o Rio de Janeiro, está Fernanda Lima. Ao contrário de Mara, Fernanda está iniciando na profissão e, apesar de já estar trabalhando, ela está ainda na universidade.  

O Rio de janeiro é uma cidade com mais de 6 milhões de habitantes. Segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de um quinto dessa população vive em áreas de favela.

O Voz das Comunidades, onde Fernanda trabalha, é um veículo que foi criado por Rene Silva dos Santos quando ele tinha apenas 11 anos. Na época, o estudante queria fazer parte de um jornal da escola onde estudava. Só que tinha um problema, só participavam do jornal os alunos mais velhos. Ele não apenas conseguiu participar, como acabou criando o próprio jornal, o Voz da Comunidade. Rene queria extrapolar a cobertura do que acontecia dentro da escola e percebeu que a própria comunidade também merecia atenção. O novo jornal teve repercussão internacional. Desde então, ampliou a cobertura para outras comunidades do Rio, tornando o Voz das Comunidades e ampliou também a atuação, tornando-se uma ONG.

Baseada nesse exemplo de jornalismo comunitário, além de trabalhar no Voz das Comunidades, Fernanda criou a página Voz de Guadalupe, com um foco específico em Guadalupe, bairro localizado na Zona Norte da cidade, e regiões próximas. Fernanda também tem uma parceria com o RJTV, da TV Globo.

O público foi o motivo principal pelo qual Fernanda buscou o jornalismo.

O foco da cobertura de Fernanda é a favela. Mas não aquela que sai nos grandes veículos ou apenas sobre violência. Aqui vale também explicar o que é jornalismo comunitário. Jornalismo comunitário é aquele que é voltado para um bairro, para uma comunidade específica. Uma das características é a proximidade dos jornalistas com os moradores. Ele também é voltado para prestação de serviços e para questões bem particulares desse grupo de pessoas.  

O episódio completo está disponível no início do capítulo.  

Neste episódio:

Mara Régia

Jornalista, publicitária e radialista, Mara Régia, é uma das vozes mais importantes e reconhecidas da rádio na região Norte do país e é uma comunicadora pioneira nas questões ambientais e de gênero. Mara Régia começou sua carreira na Rádio Nacional da Amazônia, na década de 1980.

Fernanda Lima

Fernanda Lima é Jornalista da ONG Voz das Comunidades e do Voz de Guadalupe. Fernanda também é parceira do RJTV onde faz matérias para a emissora Globo. Tem como objetivo ajudar as comunidades através da comunicação.

Capítulo 4

Cap. 4 A investigação

A investigação é uma das práticas cotidianas do jornalismo. Ela esta presente nas pequenas matérias, pois para que haja um bom jornalismo é preciso investigar cada informação, é preciso que cada dado seja checado, e está presente em grandes reportagens constituindo até mesmo um gênero, jornalismo investigativo, especializado em desvendar o que está oculto da sociedade e que é de interesse público, como esquemas de corrupção, fraudes, injustiças e violações de direitos humanos.  

Um dos entrevistados é Bruno Fonseca, chefe de redação da Agência Pública, uma agência de notícias sem fins lucrativos, cujos conteúdos podem ser reproduzidos desde que citada a fonte. A Pública foi fundada por repórteres mulheres em 2011 e produz grandes reportagens investigativas.

Fazer reportagens longas demanda tempo, organização e, muitas vezes, financiamento. É preciso também ouvir todos os lados da história. Um dos diferenciais da Pública é disponibilizar, junto com as reportagens, as fontes e os bancos de dados que foram utilizados na produção delas.

Reportagens com textos longos e de longos períodos de apuração parecem ir na contramão de um ritmo cada vez mais acelerado, de uma enxurrada de informações rápidas e de vídeos curtos, que buscam prender a atenção do público. Para Bruno, esse jornalismo vale a pena e se conecta com as necessidades da sociedade.  

A Pública é apenas um exemplo de veículo que investe em grandes reportagens. Existem outros e existem também muitos outros jornalistas que fazem um jornalismo investigativo, uma delas é Ariene Susui, especializada em cobertura de questões indígenas.

Ela conta que fazer jornalismo investigativo na Amazônia tem algumas especificidades. A logística é muito mais complexa que a de grandes cidades, por exemplo, ainda mais quando se trata de acessar territórios indígenas. Às vezes, são dias de viagem de barco para chegar a determinado povo.

Quando não consegue ir presencialmente, Ariene busca as fontes de forma remota, pelo WhatsApp, mas também não é simples. Às vezes uma troca de áudios demora uma semana, por conta da qualidade da internet. Outra dificuldade é a língua, que nem sempre ela conhece ou tem muita familiaridade. Para se ter ideia, segundo o instituto socioambiental, são mais de 160 línguas e dialetos indígenas no Brasil.  

O tempo de apuração de Ariene, muitas vezes, acaba sendo mais longo que nas redações tradicionais e acaba, às vezes, durando anos.

Tanto para Ariene, quanto para Bruno, o papel do jornalista é trazer à tona o que está escondido, aquilo que está prejudicando grupos de pessoas, que está desrespeitando as leis e os direitos humanos e que, por interesses, acaba sendo mantido. Para eles, o papel do jornalista é contribuir com a sociedade e, também, contar histórias.

O episódio completo está disponível no início do capítulo.  

Neste episódio:

Ariene Susui

Ariene Susui, 27 anos, do povo Wapichana, ativista indígena, atua desde os 14 anos no movimento indígena pela participação dos jovens e das mulheres nas discussões políticas, ambientais e de educação. Co-fundadora da Rede de comunicadores indígenas de Roraima Wakywai. graduada em Comunicação Social/Jornalismo e Mestre em Comunicação pela UFRR. Foi assessora de comunicação do Conselho Indígena de Roraima, atuou como assessora de comunicação da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e, atualmente, atua como jornalista independente com foco na Amazônia.

Bruno Fonseca

Chefe de redação da Agência Pública, é jornalista formado há mais de dez anos. Mestre e graduado em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Como repórter, atua principalmente em apurações baseadas em dados, política e acesso à informação. Tem certificação em Data Storytelling pelo Insper e fez curso de jornalismo multimídia pela Thomson Reuters. Na Agência Pública, teve trabalhos premiados nos prêmios Petrobrás de Jornalismo, Vladimir Herzog, República, MPT de Jornalismo, entre outros.

Capítulo 5

Cap. 5 A mídia pela mídia

Até aqui conhecemos alguns elementos que fazem parte da prática diária do jornalismo como a entrevista, a investigação e a busca pelo interesse público e discutimos como simplesmente conhecer essas práticas é uma forma de educação midiática, ou seja, permite que a população se aproxime do jornalismo e do jornalista. Neste episódio conheceremos dois projetos que têm como objetivo principal discutir a mídia e a imprensa e que fazem isso usando a própria mídia: o Idade Mídia, do Canal Futura e o Comitê de Imprensa, que foi ao ar na TV Câmara entre 2007 e 2013.

Paulo José Cunha é jornalista da TV Câmara e professor da Universidade de Brasília (UnB). Ele foi meu professor de telejornalismo na época da universidade. Paulo é o responsável pela idealização e pela apresentação do programa Comitê de Imprensa. O programa consiste basicamente em entrevistas com profissionais de imprensa que contam o seu dia a dia e explicam um pouco do trabalho jornalístico.  

O nome do programa vem de um ambiente muito conhecido dos jornalistas, principalmente dos que trabalham em Brasília. Comitês de imprensa são quase como redações, têm mesas cadeiras, por vezes até mesmo computadores, telefones. Ministérios, Tribunais, Congresso Nacional, Presidência da República, cada um tem seu comitê de imprensa. Ali, jornalistas de diferentes veículos trabalham lado a lado. Como são ambientes onde há sempre notícias e elas podem acontecer a qualquer momento, seria mais complicado os jornalistas trabalharem a distância e precisarem correr para os órgãos a todo momento. Comitês são ambientes de trabalho, mas também de trocas, onde os jornalistas discutem as notícias. São ambientes de confraternização, onde  acaba se conhecendo e se aproximando de colegas de vários veículos de imprensa.

Observar as estruturas dos comitês de imprensa é também observar a evolução da tecnologia. Se antes o comitê precisava ter telefones fixos e máquinas de escrever, hoje, cada repórter tem o seu próprio laptop, tablet e celular, não precisa mais enviar matérias datilografada para as redações. Agora, é possível entrar ao vivo na programação de um canal de TV pelo próprio celular. As tecnologias mudaram o tempo de publicação, agora instantâneo, e mudaram as formas de apuração das notícias. Se antes era preciso usar catálogos telefônicos, agendar reuniões, visitar arquivos, agora tudo isso é feito on-line.

Se o Comitê de Imprensa é voltado especificamente para a prática jornalística, o Idade Mídia discute o papel das mídias, no geral. O Idade Mídia é um programa sobre mídia e educação e é ele mesmo uma experiência de educação midiática, uma vez que conta com a participação de estudantes que estão ali para investigar e discutir a mídia, na própria mídia.

Os assuntos discutidos no programa são muitos, entre eles, o apresentador do programa, Alexandre Sayad, destaca um. Não seria possível discutir o cenário atual sem discutir também a inteligência artificial, a novidade da vez.

Para Alexandre, por estar na mídia, e fazer parte da construção das informações, o jornalista é também um educador. Isso não significa que precise dar uma aula, pode apenas, por exemplo, explicar nos próprios jornais e portais o que é uma reportagem e o que é um artigo de opinião. Diferenciar essas publicações já é uma forma de educar a sociedade e torná-la mais consciente do que está consumindo.

O episódio completo está disponível no início do capítulo.  

Neste episódio:

Paulo José Cunha

Escritor, jornalista e professor da UnB. Foi repórter da Rede Globo, do Jornal do Brasil, de O Globo e também trabalhou na Rádio Nacional.

Alexandre Le Voci Sayad

Jornalista, educador e escritor. Mestre em Inteligência Artificial e Ética pela PUC-SP e especialista em negócios digitais pela Universidade da Califórnia - Berkeley. Atualmente é diretor da ZeitGeist, hub de inovações em educação, cultura e mídias. Serviu por dez anos como co-presidente global da aliança internacional da UNESCO (sede Paris/ França) em educação midiática, a UNESCO MIL Alliance. É também colunista da Revista Educação e das plataformas digitais do Canal Futura. Autor e participante de mais de vinte projetos de livros nas áreas da educação, tecnologia e comunicação, além de um romance juvenil. Na televisão, apresenta o programa Idade Mídia, no Canal Futura (Globo), e no rádio, o ABC da Notícia, na BandNews FM. É membro do conselho consultivo do programa Educamídia (Instituto Palavra Aberta e Google), da ABPEDUCOM (Associação Brasileira de Profissionais de Educomunicação), do MIL Journal (Unicamp) e da Bett Educar Brasil. Internacionalmente, é membro do board do International Council for Media Literacy (IC4ML), de DCN (Digital Communication Network) e do conselho científico da revista acadêmica Comunicar (da Universidad de Huelva, Espanha).

Capítulo 6

Cap. 6 O jornalismo e a escola

O Brasil se prepara para levar a educação midiática para todas as salas de aula do país.  Vamos lembrar, educação midiática, de forma geral, é uma educação para que as pessoas sejam capazes de acessar, analisar a mídia, seja ela digital ou não, e também sejam capazes de criar conteúdos para redes sociais e outros meios.

Desde 2018, o Brasil tem um documento que se chama BNCC – Base Nacional Comum Curricular, ele define o mínimo que deve constar em todos os currículos de todas as escolas do país, sejam públicas ou particulares. Na BNCC, estão previstas práticas de educação midiática. Esse documento começou a ser implementado em 2020.  

Além disso, em 2023, depois de uma consulta pública, o Governo Federal elaborou a chamada Estratégia Brasileira de Educação Midiática. Nesse documento, estão previstas ações para que a população brasileira tenha acesso a esse tipo de educação. Entre essas ações está a educação midiática nas escolas.

E os jornalistas? Qual o papel do jornalismo junto às escolas? Como o jornalismo pode contribuir? Neste episódio, quatro jornalistas falam sobre projetos de educação midiática voltados para as escolas dos quais participaram ou ainda participam.

Uma delas é Mariana Mandelli, jornalista e coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta. O Instituto tem um projeto que se chama EducaMídia, voltado para a formação de professores, para que possam levar a educação midiática para a sala de aula. Mariana conta que nem sempre é fácil falar de educação midiática. Para ela, o jornalismo tem um papel fundamental na educação midiática e a educação midiática pode também ajudar a promover o jornalismo profissional.

Também voltada principalmente para os professores, a Lupa desenvolveu a newsletter Intervalo. Nela estão reunidas boas praticas de educação midiática e sugestões de atividades para serem desenvolvidas em sala de aula.

A Lupa surge como uma agência de checagem ou seja, ela confere as informações que são divulgadas na mídia e redes sociais e, após checa-las diz se são verdadeira ou falsas. E por que uma agência de checagem decidiu voltar-se para as escolas? É o que nos conta o jornalista da Lupa Educação Victor Terra.

Veículos de imprensa também desenvolvem projetos de educação midiática, um exemplo é a BBC, emissora de comunicação pública do Reino Unido que tem um braço no Brasil. A BBC desenvolveu um projeto para levar tanto a prática jornalística quanto ferramentas para combater a desinformação para as escolas. Quem coordenou, no Brasil, esse projeto foi a jornalista Paula Idoeta.

Para que os próprios jornalistas saibam na importância que têm, a educação midiática tem que estar também na sala de aula das faculdades de comunicação. Este é o trabalho da jornalista e professora Sandhra Cabral, que desenvolveu uma disciplina de educação midiática na USCS - Universidade Municipal de São Caetano do Sul, no estado de São Paulo.

O episódio completo está disponível no início do capítulo.  

Neste episódio:

Paula Idoeta

Formada em jornalismo pela Cásper Líbero, com mestrado em jornalismo pela universidade argentina Torcuato Di Tella (em parceria com o jornal La Nación, onde estagiou). Já trabalhou no jornal e no site Gazeta Esportiva, na assessoria Ex-Libris, no portal G1, onde foi repórter de Mundo, e na Folha de S.Paulo, onde foi redatora de Mundo e responsável pela edição do suplemento The New York Times. Está na BBC News Brasil desde 2010.

Mariana Mandelli

Jornalista e cientista social, com mestrado em Antropologia Social. Há dez anos trabalha com comunicação com foco em educação, alfabetização midiática, direitos humanos e políticas públicas. É coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta entidade dedicada às causas da liberdade de expressão, liberdade de imprensa e educação midiática.

Victor Terra

Jornalista e Mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ, atualmente é Repórter e Analista de Educação na Agência Lupa e graduando em psicologia pela UVA. É autor de “Sou Visto, Logo Existo: eficácia, imagens de si e a instrumentalização do outro no Instagram”, pela Editora UFMG. Tem passagens pelas assessorias de imprensa da UFRJ. Como pesquisador, tem investigado temas como desinformação, subjetividades, empreendedorismo, imagens e consumo nas redes sociais.

Sandhra Cabral

Jornalista formada pela UMESP, mestre em inovação na comunicação de interesse público pela USCS – Universidade Municipal de São Caetano do Sul e USP – Universidade de São Paulo, com 20 anos de experiência em hard news, com passagem por grandes emissoras de São Paulo como CBN, Record, Eldorado e Estadão, nos cargos de repórter, âncora de programas jornalísticos e de educação, e editora-chefe. Vencedora de quatro prêmios em Jornalismo: Melhor Âncora da Rádio Eldorado em 2009; Prêmio Latino-americano de melhor entrevista em 2009; Sindipan de Jornalismo em 2010; e Prêmio de Jornalismo Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia 2013.

As fontes

As entrevistas utilizadas no Dizem as fontes foram feitas ou pela plataforma Google Meet ou foram gravadas pelos próprios entrevistados em 2023 e 2024.

Você pode conferir aqui os 15 vídeos que deram origem ao projeto, todos ou na íntegra ou apenas com pequenas edições.

Todas as pessoas entrevistadas concordaram com a publicação do material no âmbito do projeto Dizem as fontes.

Acesse a dissertação

Aqui você pode baixar a dissertação defendida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Mídias Criativas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGMC-UFRJ) que detalha a criação do Dizem as fontes. Obrigada pela leitura!

Contato: dizemasfontes@gmail.com